Iniciação Cristã I - Preparação para a Primeira Eucaristia
A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é o seu jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: Bum! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, com que ela mesma nunca havia sonhado.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
E você o que é?
Uma pipoca estourada ou um piruá?
A incredulidade de Tomé
João 20,19-31
Reflexões
È significativa a cronologia que o Evangelho de João nos oferece sobre “aquele dia, o primeiro da semana” (v. 19), o dia mais importante da história. Porque naquele dia Cristo ressuscitou. Aquele dia tinha começado com a ida de Maria de Magdala ao sepulcro “de manhã cedo, quando era ainda escuro” (Jo 20,1). No Evangelho de hoje; estamos na “tarde daquele dia ... quando as portas estavam fechadas ... por medo dos Judeus” (v. 19). A ambientação espácio-temporal, e também psicológica, é completa. Começou a nova história da humanidade, sob o signo de Cristo ressuscitado. Prescindir dele seria uma perda de valores e um risco para a própria sobrevivência humana.
As portas fechadas e o medo são superados com a presença de Jesus, o Vivente, que por bem três vezes anuncia: “A Paz esteja convosco! (v. 19.21.26), provocando a alegria intensa dos discípulos “ao verem o Senhor” (v. 20). Paz e alegria são as características mais evidentes da primeira comunidade cristã (I leitura): tomavam as refeições com alegria e simplicidade de coração e eram estimados por todo o povo (v. 46-47). Uma estima justificada, dada a solidez e a irradiação missionária daquele novo grupo que se edificava sobre quatro pilares (v. 42): o ensinamento dos apóstolos, a fracção do pão, a oração e a koinonia (união fraterna, partilha dos bens). Pedro (II leitura), pela sua parte, exorta os fiéis a serem “repletos de alegria, mesmo se ... aflitos por várias provações” (v.6). A Páscoa de Jesus leva a superar os medos do cristão e do missionário; a fé, que leva ao encontro com Cristo ressuscitado, ajuda a superar também muitas dificuldades psicológicas, tais como a angústia, os temores, a depressão...
São três os dons principais que Cristo oferece à comunidade dos crentes: o Espírito Santo, o perdão dos pecados e a missão. O fruto maior da Páscoa é certamente o dom do Espírito Santo, que Jesus sopra sobre os deus discípulos: “Recebei o Espírito Santo” (v. 22). Ele é o Espírito da criação redimida e renovada, que Jesus exala no momento da sua morte na cruz (Jo 19,30), como prelúdio do Pentecostes (Actos 2 ss).
Para João, o dom do Espírito é essencialmente ligado ao dom da paz e, por isso, ao perdão dos pecados, como disse Jesus: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados” (v. 23). A verdadeira paz tem as suas raízes na purificação dos corações, na reconciliação com Deus, com os irmãos e com a criação inteira. Esta reconciliação é obra do Espírito, porque “Ele é a remissão de todos os pecados” (ver a oração sobre as ofertas, na Missa do sábado antes do Pentecostes, e a nova fórmula da absolvição sacramental). Para o evangelista Lucas “a conversão e o perdão dos pecados” são a mensagem que os discípulos deverão pregar “a todos os povos” (Lc 24,47). É por isso mesmo que o sacramento da reconciliação é um dom pascal de Jesus, com inestimável valor: é o sacramento da alegria cristã (Bernardo Häring).
Os dons do Ressuscitado devem ser anunciados e partilhados com toda a família humana: é por isso que Jesus, naquela mesma tarde, anuncia uma missão universal, que Ele confia aos apóstolos e aos seus sucessores: “Como o Pai me enviou, assim eu vos envio a vós” (v. 21). São palavras que ligam para sempre a missão da Igreja à vida da Trindade, porque o Filho é o missionário enviado pelo Pai para salvar o mundo inteiro com o amor: “Como o Pai me enviou a mim, também eu vos envio a vós”: são palavras que precisamos de per em paralelo com outras: “ Como o Pai me amou a mim, assim eu vos amei a vós” (Jo 15,9), estabelecendo uma ligação inseparável entre missão-amor e amor-missão. Com estas palavras fica definitivamente esclarecido que a Missão universal nasce da Trindade (AG 1-6) e é dom e compromisso pascal de Jesus ressuscitado.
Os três dons do Ressuscitado: o Espírito, a reconciliação e a missão, são por nós vividos na fé. Mesmo sem vermos o Senhor, somos felizes (v.29) se acreditamos nele e o amamos. Ficamos, assim, agradecidos a Tomé (v. 25), que quis meter a mão na ferida do coração de Cristo, que “cubiculum est Ecclesiae”, é a sala íntima/secreta da Igreja (S. Ambrósio). Aquele Coração é o santuário da Divina Misericórdia, título e tesouro que neste Domingo é celebrado com devoção popular crescente. A misericórdia divina é, desde sempre, a revelação mais global e consoladora do mistério cristão: “A terra está cheia de miséria humana, mas está cheiíssima da misericórdia de Deus” (S. Agostinho). Esta é a ‘boa notícia’ permanente, que a Missão leva à humanidade inteira.