quarta-feira, agosto 27

“Que poderá dar o homem em troca da sua vida?”

Tema do 22º Domingo do Tempo Comum A liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir a “loucura da cruz”: o acesso a essa vida verdadeira e plena que Deus nos quer oferecer passa pelo caminho do amor e do dom da vida (cruz). Na primeira leitura, um profeta de Israel (Jeremias) descreve a sua experiência de “cruz”. Seduzido por Jahwéh, Jeremias colocou toda a sua vida ao serviço de Deus e dos seus projectos. Nesse “caminho”, ele teve que enfrentar os poderosos e pôr em causa a lógica do mundo; por isso, conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição… É essa a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Jahwéh no seu coração e vivem em coerência com os valores de Deus. A segunda leitura convida os cristãos a oferecerem toda a sua existência de cada dia a Deus. Paulo garante que é esse o sacrifício que Deus prefere. O que é que significa oferecer a Deus toda a existência? Significa, de acordo com Paulo, não nos conformarmos com a lógica do mundo, aprendermos a discernir os planos de Deus e a viver em consequência. No Evangelho, Jesus avisa os discípulos de que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas passa pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus Naquele tempo, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!» Jesus voltou-Se para Pedro e disse-he: «Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens». Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Porque, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? O Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras».


REFLEXÃO - PALAVRA DO SACERDOTE


Este é o domingo da renúncia de tudo para seguir livremente Jesus. A Liturgia da Palavra de Deus deste domingo é um convite a seguir a Jesus Cristo e no seu seguimento conhecer e aceitar como Proposta Divina de Salvação a “Loucura de Cruz”.
Ninguém se tornar menor por amar mais. Jesus não perdeu nenhum pouco de si por nos amar até o extremo. Quem se preocupa apenas com sua vida não compreende a Cruz de Jesus, a oferta da vida e desafia quem assim faz. Jesus não exitou em se doar por nós, quis levar adiante seu projeto de Salvação e não permitiu que nada lhe atrapalhasse.
Ganham destaque nessa liturgia duas figuras de tempos diferentes: Jeremias e Pedro. O profeta que hesita em abraçar a sua missão, mas se deixa seduzir por Deus; e o apóstolo que pensa na missão de Jesus a partir de sua vida e não consegue compreender o plano de Deus.
Em Jeremias, encontramos uma confissão onde ele abre seu coração e desabafa seu sofrimento diante de um aparente fracasso da sua Missão. Destaca a sedução de Deus em sua vida, porque Deus o queria totalmente para si. Houve uma entrega da parte do profeta que enfrentou perseguições e sofrimentos e a achar que havia sido abandonado por Deus, teve a tentação de largar tudo pelo desanimo que lhe invadiu o coração, mas não desistiu, revigora-se em Deus e exclama: “Senti dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me!”.
Nesta passagem podemos perceber o grito humano de um coração dolorido, marcado pela incompreensão e pelo aparente fracasso na Missão de servir a Deus. Em situações de sofrimento e perseguição desanima, mas logo revigora e reanima, movido por uma grande paixão por Deus.
Paulo na Carta aos Romanos convida aos cristãos a oferecerem a Deus a própria vida como oferta agradável a Deus, este é o culto que mais agrada a Deus. É destacado o comportamento cotidiano do cristão. A vida cristã caracteriza-se por uma contínua busca da vontade de Deus, na cotidiana adesão ao seu projeto e como resposta total e fiel ao chamado, à vocação, às orientações de sua Palavra e da Boa Nova de Jesus.
O cristão é uma oferta agradável a Deus de acordo com a sua vida. A vida é o sacrifício que o cristão pode oferecer a Deus, mas isso requer discernimento e empenho constante, principalmente na luta em favor da vida.
Depois de fazer sua Profissão de Fé em Jesus como o Messias e receber uma missão especial de ser a liderança da Igreja sonhada e idealizada por Jesus, vemos a figura do apóstolo Pedro ganhando destaque no Evangelho. Após ter professado a fé em Jesus, Pedro não quer que aconteça aquilo que Jesus está anunciando – a sua Paixão, Morte e Ressurreição (o massacre por parte das Autoridades do seu próprio povo). Pedro quer um Messias diferente, por isso tem uma visão errada do messianismo de Jesus e do modo de ser discípulo dele.
O feliz Simão é agora chamado de Satanás, inimigo do projeto de Jesus. Aquele que foi escolhido para ser a pedra fundamental é agora uma pedra no caminho, um estorvo. Não mais inspirado por Deus, mas sim expressando pensamentos meramente humanos, não pensa mais como Deus.
O anúncio da Paixão é feito e com ele o convite para tomar a Cruz e seguir Jesus, outro caminho para o cristão não há. Quem só pensa em salvar a própria vida, acaba perdendo-a, quem não faz caso de si mesmo, esse ganha a vida.
A Cruz não era algo bem aceito, era sinal de derrota, de escândalo e fracasso. Era inaceitável que o Mestre morresse na Cruz, que ele fosse ao encontro dela, aceitando passivamente tal sofrimento e humilhação e, Jesus vai ao encontro da Cruz, não para expressar a sua derrota e seu fracasso, porque ele não a abraçou como um derrotado, pois sabia que voltaria glorioso.
A mensagem da Liturgia da Palavra é de uma vitória certa em Jesus para quem se deixar seduzir por Deus, pois Ele é mais forte e não quer perder aqueles que são Dele; a oferta da própria vida a Deus, pois este é o culto que mais lhe agrada e, com Jesus abraçar a Cruz para que com Jesus alcancemos a grande recompensa que é a vida e a vida em plenitude.
Padre Paulo Henrique Facin

Nenhum comentário: