A nossa fé não pode ser reduzida ao “dizer”, pois a oração não pode estar separada da vida, mas também ela não é apenas “fazer”. Lembramos isso de modo especial em nossos dias, quando tudo na sociedade nos leva a medir os valores, os acontecimentos e as pessoas pelo critério da eficiência, do sucesso, do lucro, da promoção na carreira profissional, ou seja, com base em um fazer que não é o conselho evangélico. O agir do Evangelho não significa cruzar os braços e deixar a vida acontecer, mas é um convite a agir com os critérios de Jesus Cristo. Por mais que o fim possa fazer-nos bem, se o meio de atingi-lo é contrário à Palavra do Senhor, devemos mudar de caminho.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
Evangelho de Jesus Cristo † segundo Mateus.
Os dois alicerces
Com este texto, Mateus encerra o Sermão da Montanha, onde são apresentadas as características do Reino e a vontade do Pai em relação a nós. A parábola, na qual é feita a comparação entre os dois construtores, é, também, narrada por Lucas, com pequenas diferenças próprias do estilo de cada evangelista (cf. 13 set). A piedade comum satisfaz-se em invocar e louvar o nome do Senhor. Contudo, isso é insuficiente para se entrar no Reino. Jesus descarta os grandes prodígios (profecias, expulsão de demônios, milagres), prevalecendo, apenas, o critério de por em prática as suas palavras, que revelam a vontade de Deus. Por em prática a vontade do Pai é o pedido que fazemos na oração: "Pai nosso que estais no céu... seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu...". A vontade do Pai, manifestada em Jesus como sendo a prática da justiça no amor (segunda leitura), supera as antigas leis e decretos (primeira leitura). As invocações, as profecias, a expulsão de demônios e os milagres não são o caminho para a união com Deus. O caminho é a prática da justiça, da fraternidade e da partilha, tudo a serviço da vida, principalmente dos mais desamparados, empobrecidos e excluídos. Muitos que realizam ações extraordinárias, desdobrando-se em louvores ao Senhor, na realidade estão buscando sua própria satisfação pessoal, glória e prestígio, como os fariseus que faziam longas orações diante do povo para se aparentarem como piedosos e justos. O primado do "fazer a vontade do Pai" como sendo o caminho para a união com Deus é uma característica do evangelho de Mateus e, principalmente, do evangelho de João. Fazer a vontade do Pai resulta em transformar-se em sede da morada do Pai e do Filho com a participação na vida eterna (Jo 14,23). As palavras de Jesus nos orientam para a formação de comunidades consolidadas pela comunhão no amor, em ambiente de paz e abertas para a comunhão com todos aqueles que se empenham no resgate da dignidade humana e da vida, no mundo.
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