sexta-feira, abril 11

EVANGELHO – Jo 10,1-10



Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, disse Jesus:


«Em verdade, em verdade vos digo:


Aquele que não entra no aprisco das ovelhas pela porta,


mas entra por outro lado,


é ladrão e salteador.


Mas aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas.


0 porteiro abre lhe a porta e as ovelhas conhecem a sua voz.


Ele chama cada uma delas pelo seu nome e leva as para fora.


Depois de ter feito sair todas as que lhe pertencem,


caminha à sua frentee as ovelhas seguem no, porque conhecem a sua voz.


Se for um estranho, não o seguem, mas fogem dele,


porque não conhecem a voz dos estranhos».


Jesus apresentou lhes esta comparação,


mas eles não compreenderam o que queria dizer.


Jesus continuou: «Em verdade, em verdade vos digo:


Eu sou a porta das ovelhas.


Aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores,


mas as ovelhas não os escutaram.Eu sou a porta.


Quem entrar por Mim será salvo:


é como a ovelha que entra e sai do aprisco e encontra pastagem.


O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir.


Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida


e a tenham em abundância».




MENSAGEM


O texto que nos é proposto deve ser entendido no contexto mais amplo da denúncia da atuação dos dirigentes espirituais judeus. No episódio do cego de nascença (cf. Jo 9), tinha ficado claro que os dirigentes não estavam interessados em acolher a luz e em deixar que o Povo escolhesse a liberdade que Jesus oferecia. Em jeito de conclusão desse episódio, Jesus avisa os dirigentes de que veio chamá-los a juízo (“krima”) por causa da sua má gestão como líderes do Povo de Deus (cf. Jo 9,39-41 – os versículos que antecedem o nosso texto): eles não só preferiram continuar nas trevas da sua auto-suficiência, como impedem o Povo que lhes foi confiado de descobrir a luz libertadora que Jesus lhes quer oferecer.


O texto do Evangelho, que hoje nos é proposto, está dividido em duas partes, ou em duas parábolas.


Na primeira parábola (cf. Jo 10,1-6), Jesus apresenta-se preferencialmente como “o Pastor”, cuja ação se contrapõe a esses dirigentes judeus que se arrogam o direito de pastorear o “rebanho” do Povo de Deus, mas sem serem “pastores”.Jesus não usa meias palavras: os dirigentes judeus são ladrões e bandidos (cf. Jo 10,1), que se servem das suas prerrogativas para explorar o Povo (ladrões) e usam a violência para o manter sob a sua escravidão (bandidos). Aproximam-se do Povo de Deus de forma abusiva e ilegítima, porque Deus não lhes confiou essa missão (“não entram pela porta”): foram eles que a usurparam. O seu objetivo não é o bem das “ovelhas”, mas o seu próprio interesse.


Ao contrário, Jesus é “o Pastor” que entra pela porta: ele tem um mandato de Deus e a sua missão foi-Lhe confiada pelo Pai. Em Ezequiel, o papel do “pastor” correspondia, em primeiro lugar, a Deus (cf. Ez 34,11-12.15) e ao futuro enviado de Deus, o “Messias” descendente de David (cf. Ez 34,23). Ao apresentar-se como Aquele “que entra pela porta”, com autoridade legítima, Jesus declara-Se, implicitamente, o “Messias” enviado por Deus para conduzir o seu Povo e para o guiar para as pastagens onde há vida em plenitude. Ele entra no redil das “ovelhas” para cuidar delas, não para as explorar. A sua missão é libertá-las das trevas em que os dirigentes as trazem e conduzi-las ao encontro da luz libertadora (cf. Jo 10,2).Como é que Jesus exercerá a sua missão de “pastor”? Em primeiro lugar, irá chamar as “ovelhas”. “Chama-as pelo seu nome”, porque conhece cada uma e com cada uma quer ter uma relação pessoal de amor, de proximidade, de comunhão: para Jesus, não há “massas”, mas pessoas concretas, com a sua identidade própria, com a sua riqueza, com a sua dignidade.Não obrigará ninguém a responder-Lhe; mas os que responderem ao seu chamamento farão parte do seu “rebanho”. A esses, Jesus conduzi-los-á “para fora” (vers. 3): Jesus não veio instalar-Se na antiga instituição judaica, geradora de opressão e de escravidão; mas veio criar uma comunidade humana nova – a comunidade do novo Povo de Deus.Depois, o “pastor” caminhará “diante das ovelhas” e estas segui-l’O-ão (vers. 4). Ele indica-lhes o caminho, pois Ele próprio é “o caminho” (cf. Jo 14,6) que leva à vida plena. As “ovelhas” seguem-n’O: “seguir” traduz a atitude do discípulo, convidado a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida, a fazer d’Ele a sua referência fundamental, a aderir a Ele de todo o coração. As “ovelhas” “escutam a sua voz”, porque sabem que só a voz de Jesus as conduz, com segurança, ao encontro da vida definitiva.Na segunda parábola (cf. Jo 10,7-9), Jesus apresenta-Se como “a porta”. Aqui, Ele já não é o pastor legítimo que passa pela porta, mas “a porta”. O que é que Ele quer traduzir com esta imagem?A imagem pode aplicar-se aos líderes que pretendem ter acesso ao “rebanho”, ou pode aplicar-se às próprias “ovelhas”. No que diz respeito aos líderes, significa que ninguém pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver um mandato de Jesus, se não tiver sido convidado por Jesus; e significa também que ninguém pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver os mesmos sentimentos, a mesma atitude de Jesus (que não é a de explorar as “ovelhas”, mas a de dar-lhes vida).


No que diz respeito às “ovelhas”, significa que Jesus é o único lugar de acesso para que as “ovelhas” possam encontrar as pastagens que dão vida. “Passar pela porta” que é Jesus significa aderir a Ele, segui-l’O, acolher as suas propostas. As “ovelhas” que passam pela porta que é Jesus (isto é, que aderem a Ele) podem passar para a terra da liberdade (onde não mandam os dirigentes que exploram e roubam), onde encontrarão “pastos” (vida em plenitude).


O nosso texto termina com a reafirmação do contraste entre Jesus e os dirigentes: os líderes religiosos judaicos utilizam o “rebanho” para satisfazer os seus próprios interesses egoístas, despojam e exploram o povo; mas Jesus só procura que o seu “rebanho” encontre vida em plenitude.
por Ana Lúcia

Nenhum comentário: