sábado, fevereiro 28

1º Domingo da Quaresma

1º Domingo da Quaresma - Ano B - São Marcos - Cor Roxa
__ “Eis que vou estabelecer minha aliança convosco...” __

EVANGELHO (Mc 1,12-15): - "O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo."

- "NO ACONCHEGO DO DESERTO"
Neste primeiro domingo da quaresma, Deus nos chama ao deserto com Jesus, para uma conversa de pé de ouvido, a liturgia se reveste de roxo, que é a cor da paixão, não é tristeza, luto e desconsolo, como muitos pensam, é como se Deus, o amado de nossa vida, quisesse que ao longo de quarenta dias, prestássemos mais atenção nele, no seu jeito diferente de nos amar, roxo seria isso: um olhar para dentro, enquanto se olha para o céu, podendo evocar o poeta “De tudo ao meu amor serei atento...”, quaresma é tempo de deixar-se remodelar, permitindo que Deus refaça a nossa vida.

Quando presido o Sacramento do matrimonio percebo que os casais têm dificuldade de se olhar nos olhos, na hora do consentimento, e não é só com quem está casando que isso acontece, um amigo confidenciou-me que sentiu um certo “desconforto” ao olhar nos olhos da esposa, na renovação do matrimonio, em uma missa de encontro de casais. Olhar nos olhos nos causa medo, porque é enigmático e misterioso, não se tem medo de olhar o corpo, que se torna fácilmente objeto de desejo, em uma sociedade tão erotizada, mas quando se olha nos olhos, estamos diante da alma do outro, há comunhão de corpo mas não há comunhão de alma. A relação entre namorados, noivos, e até entre marido e mulher, fica na maioria das vezes banalizada, alguns conseguem emigrar do erótico para o Eros, e há outros, que na graça de Deus, confiada pelo Sacramento do matrimonio, conseguem chegar no Ágape, que é o amor em toda sua plenitude, o Eros é o meio, e não o fim, é um caminho que tem de ser percorrido do começo ao fim da vida conjugal e que só será obstruído pela morte.

Nossa relação com Deus ás vezes também é assim, um tanto quanto banal, pois temos medo de contemplar o seu mistério. Na capela do Santíssimo, lugar sagrado em nossas comunidades, onde Aquele que é o Amor Absoluto se esconde em um pedaço de pão, sentimo-nos embaraçados e procuramos sempre dizer algo, fazer um pedido, recitar uma fórmula de louvor e adoração, daí somos capazes de ficar horas ali falando , porque este “Falar” nos dá a ilusão de que penetramos no mistério de Deus e podemos dominá-lo. Invertemos o jogo e queremos seduzir a Deus, diferente do profeta, relutamos em ser por ele seduzidos e dominados.

Deserto é lugar teológico do “namoro”, onde movidos pelo mesmo Espírito que conduziu Jesus, vamos ter nosso encontro pessoal com Deus, o esposo apaixonado que quer olhar nos nossos olhos, sussurrar em nossos ouvidos e nos envolver com a sua ternura, para sentirmos de novo o encanto do primeiro amor, como na visão do profeta Oséias “Eis que eu mesmo a seduzirei e a conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração”. Deserto é lugar de fazer a experiência da esposa jovem, que manifesta a sua alegria ao colocar toda sua confiança no amado, e descobrir, como no Cântico dos cânticos, que somente Deus é a sua Segurança – “Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu Amado?”

É o Povo da antiga aliança, é o povo da nova aliança, é a Santa Igreja, somos eu e você, a razão do amor divino, que nos trouxe, com a encarnação de Jesus, a possibilidade real de experimentarmos em nossa vida a salvação. Deserto é, portanto lugar do encontro onde o amor se revela, é a mesma experiência do povo do Êxodo, que se repete em Jesus Cristo, porém, ao contrário do povo da antiga aliança, não mais se deixará enganar pela tentação, propostas sedutoras dos amantes, para fazê-lo perder o paraíso de delícias, onde o homem convivia com os animais selvagens, servido pelos anjos de Deus, evocando a proteção Divina do Eterno Amado sob o objeto do seu amor.

Revistamo-nos do roxo da paixão e não da tristeza, quaresma é dar um tempo para aquelas coisas que em nossa vida são secundárias, para nos ocuparmos com um Deus apaixonado, que suspira quando vamos ao seu encontro enquanto Igreja, na dimensão celebrativa. Quaresma é quarenta dias de amor, como um casal que retoma a lua de mel, após longa caminhada na vida conjugal, foi no deserto que Deus celebrou a aliança com seu povo, estabelecendo com ele uma relação única, “Eu serei o seu Deus e vós sereis o meu povo”, evocando o cerne da união conjugal – e os dois serão uma só carne.

É esse amor que salvará o mundo, verdade ignorada pelos que prenderam João Batista tentando sufocar um Amor que não se deixa aprisionar, e em Jesus irrompe ainda mais forte, no meio da humanidade, para levar o homem de volta ao paraíso! Nada irá deter a força desse amor, nem a miséria dos homens ou os pecados da igreja, o AMOR triunfará definitivamente! Pois o tempo se completou, o Reino está próximo. Converter e crer no evangelho, é uma forma contínua de corresponder a esse amor misterioso de Deus que em Jesus busca a todos os homens, sem distinção ou acepção de qualquer pessoa. Converter-se é dar um solene “basta” aos falsos amores de “amantes” mentirosos, que nos enganam, oferecendo-nos um falso paraíso, arrastando-nos à tristeza da morte do pecado, deixando-nos longe...bem longe Daquele que é o nosso único e verdadeiro Amor...


José da Cruz é diácono permanente

Fonte: http://www.npdbrasil.com.br

sexta-feira, fevereiro 13

6º Domingo do Tempo Comum (15.02.09)


"Estendeu a mão e o tocou"
Acolher é evangelizar


Leituras:
Levítico 13,1-2.44-46;
Salmo 31;
1 Coríntios 10,31-11,1;
Marcos 1,40-45

O evangelho de Marcos para o 6º Domingo Comum narra a cura de um leproso. Além de mostrar uma cura, é uma evangelização importante: o acolhimento do pecador. É significativo para a comunidade que passa a ver o pecador com a mesma misericórdia que Jesus teve para com o leproso. Os leprosos, depois de identificada a lepra pelo sacerdote, eram excluídos da comunidade. Deviam andar com a barba coberta, cabeça descoberta, roupas rasgadas. Era um sinal de luto. Devia gritar: impuro! Quem o tocasse também ficava impuro. O livro do Levítico nos capítulos 13 e 14, traz uma legislação exigente sobre a lepra (Na verdade era uma medida de profilaxia que se tornou uma lei de exclusão identificando-a com o mal). O sacerdote no templo era o responsável para identificar quem era leproso excluindo-o da comunidade com conseqüências sociais, religiosas e pessoais. Compete a ele também comprovar a cura. O leproso curado deveria celebrar a purificação com um ato religioso de sacrifício. A cura era uma verdadeira ressurreição. Marcos relata a cena: O leproso se aproxima de Jesus, o que era proibido; não se chama de impuro, imundo, mas pede a cura com simplicidade de quem acolhe uma bondade. Jesus toca-o! Tocar no leproso era proibido. Era fazer-se leproso e entrar na marginalidade. Faz um gesto de acolhimento totalmente "pecaminoso" na linguagem da religião judaica do momento. Jesus rompe a barreira da exclusão e o restitui à comunidade, inclusive ao culto. Aceita o aspecto social de apresentar-se ao sacerdote para a volta à vida normal, mas não aceita a severidade da lei que pune um doente. Jesus, longe de ter medo, está cheio de compaixão (Mc 1,41). Esse milagre ensina os cristãos a não excluírem as pessoas seja por motivo de doença seja por pecado. Isso eram ranços da religião judaica.


A exclusão é pecadoJesus toca o leproso. É o gesto divino de inclinar-se sobre o sofrimento humano. "Deus é aquele que com a mão alivia a dor, segundo uma inscrição grega" (Ravasi). A lepra é um símbolo do pecado para o antigo tempo. Causa medo. Lembro-me, quando pequeno, ver os "doentes do sangue" passar pela fazenda a cavalo pedindo esmola. Tínhamos muito medo. Não se tocava o que eles tocavam. A comunidade repete esse tratamento com respeito aos pecadores, aqueles que dizemos que não prestam ou não são como nós somos. A comunidade tem que se colocar contra o que pensa o mundo, para poder compreender o mal da exclusão. É um pecado hediondo excluir a pessoa pela raça, cor, mentalidade, partido, formação, religião e mesmo por ter uma vida errada. Jesus tocou o leproso que era um símbolo da exclusão. A misericórdia inclui a pessoa e as cura.
Comunidade lugar do perdãoA cura do leproso é símbolo da libertação da lepra do pecado que exclui. A comunidade tem medo de se sujar com o pecado dos outros. Mas ela deve ter, como Jesus, sentimentos maternos de misericórdia pelo filho excluído. É o lugar do perdão e da cura. O excluído pelo pecado deve abrir o coração e pedir socorro pois é o melhor remédio para a cura. Devemos tomar cuidado para que os "santos" da comunidade não sejam os que excluem. Marcos também coloca a questão do silêncio sobre o ocorrido. Jesus não quer que se confunda sua missão só como cura, mas evangelização. Se buscarmos a glória de Deus, podemos, como Paulo, ser modelos para a comunidade. Cada celebração é lugar do perdão e da inclusão sempre maior de seus membros. É nela o lugar de proclamar Jesus.


Pe. Luiz Carlos de Oliveira

quinta-feira, fevereiro 5

5º Domingo do Tempo Comum
"Redescobrir nossa missão e não ter medo!”



Neste domingo, acompanhemos Jesus Cristo, o mestre da vida, em sua trajetória em Cafarnaum. Hoje, buscamos a intimidade com o Senhor e queremos que Ele toque em nossas vidas, fazendo-nos pessoas novas e capazes de assumir o batismo, na força e no testemunho do Reino.





PRIMEIRA LEITURA
(Jó 7,1-4.6-7)
Leitura do Primeiro Livro de Jó.
Jó disse: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Seus dias não são como dias de um mercenário?
Como um escravo suspira pela sombra, como um assalariado aguarda sua paga, assim tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimento. Se me deito, penso: Quando poderei levantar-me? E, ao amanhecer, espero novamente a tarde e me encho de sofrimentos até ao anoitecer. Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança.
Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade!
Palavra do Senhor.
T. Graças a Deus.


Será que alguém tem dúvida de que a nossa vida nesta terra é uma luta? Mas a vida não pode ser feita somente de decepções, de sofrimentos, de problemas. Seria frustrante demais e nem valeria a pena viver. O bom mesmo seria viver feliz, plenamente realizado, com a certeza de que a alegria não mais dará lugar à tristeza. Mas, isso só acontecerá no céu, quando o Reino de Deus se estabelecer plenamente. Enquanto isso, renovamos a fé e a esperança no Senhor que reconstrói Jerusalém, que reúne os dispersos, que conforta os corações despedaçados, que enfaixa e cura as feridas e que ampara os humildes. Onde está esse Deus? Gostaríamos de vê-lo, de vê-lo agindo para pedir o seu socorro.


SALMO RESPONSORIAL / 146 (147)
Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações
Louvai o Senhor Deus, porque ele é bom; / cantai ao nosso Deus, porque é suave: / ele é digno de louvor, ele o merece! / O Senhor reconstruiu Jerusalém / e os dispersos de Israel juntou de novo.

Ele conforta os corações despedaçados, / ele enfaixa suasferidas e as cura; / fixa o número de todas as estrelas / e chama a cada uma por seu nome.
É grande e onipotente o nosso Deus, / seu saber não temmedida nem limites. / O Senhor Deus é o amparo dos humildes, / mas dobra até o chão os que são ímpios.




SEGUNDA LEITURA
(1Cor 9,16-19.22-23)
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios.
Irmãos, pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição.
Ai de mim se eu não pregar o evangelho! Se eu exercesse minha função de pregador por iniciativa própria, eu teria direito a salário. Mas, como a iniciativa não é minha, trata-se de um encargo que me foi confiado. Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o
de graça, sem usar os direitos que o evangelho me dá. Assim, livre em relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Com os fracos, eu me fiz fraco, para ganhar os fracos. Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele.
Palavra do Senhor.
T. Graças a Deus.




"Ai de mim se eu não evangelizar" - exclama Paulo. Pregar o Evangelho não é motivo de glória, é uma necessidade, é uma obrigação. Paulo é discípulo missionário, que recebeu de Jesus o encargo de servir a todos para ganhar o maior número possível. Ele tudo faz pelo Evangelho, para ter parte nele. Sabe fazer-se fraco com os fracos. Aí está a resposta de quem vai cuidar dos necessitados de Cafarnaum e de qualquer parte do mundo. Os discípulos de Jesus. Não se trata de organizar uma enorme rede de serviço social em favor dos necessitados. Segundo o Evangelho de Marcos, trata-se antes de tudo de libertar o ser humano da dominação do poder demoníaco, isto é, de tudo o que desumaniza o ser humano e o torna menos gente. "Venham comigo para serem pescadores de gente" - foi o convite de Jesus.
É evidente que Paulo pensa em uma adesão de fé em Jesus Cristo. Quando ele escreve: "Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns" a limitação de seu trabalho tem como objetivo a salvação em Cristo. Salvação de quê? Do poder demoníaco, responde Marcos, em todas as suas dimensões. Salva-se aquele que crê em Jesus Cristo e mostra a sua fé em atos concretos em favor do ser humano.



EVANGELHO (Mc 1,29-39)
Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los. À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. A cidade inteira se reuniu em frente da casa. Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quemele era. De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. Quando o encontram, disseram: “Todos estão te procurando”. Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”. E andava por toda a Galiléia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios.
Palavra da Salvação.
T. Glória a vós, Senhor.


Jesus nos chamou para sermos pescadores de gente, para trabalharmos em favor do ser humano. E Ele dá o exemplo. Saindo da sinagoga de Cafarnaum, onde curou o possesso, encontrou a sogra de Simão de cama, com febre. Jesus a curou e ela voltou às atividades normais. Doentes e possessos eram levados a Jesus e Ele os curava. E não queria propaganda nem de sua pessoa nem do que fazia. Os demônios eram proibidos de dizer quem Ele era.
Jesus trabalhava e rezava. Levantava-se cedo e ia rezar num lugar deserto. Foi assim que Ele fez naquele dia depois de ter atendido tanta gente, depois de ter posto tanta gente de pé, depois de ter marcado presença junto de tantos infelizes. Pedro e seus companheiros estavam procurando Jesus porque havia ainda muita gente que queria vê-lo. Jesus não se detém naquele lugar. Vai adiante. Não está preocupado em ser visto e aclamado, mas continua, por onde passa, a expulsar os demônios. Jesus veio para enfrentar o poder demoníaco e mostra isso aos discípulos. Mas, e aqueles que o procuraram em Cafarnaum, quem vai cuidar deles?