sábado, abril 5

Domingo: 06/04/2008. 3º Domingo da Páscoa




Neste domingo somos convidados a conhecer o itinerário da fé cristã: caminhos da humanidade, palavra, partilha, Igreja que confirma. Acima de tudo somos convidados a experimentar o Ressuscitado, que se manifesta onde quer que haja busca e onde quer que a partilha se faça: partilha de liberdade e de vida, fermentando a fraternidade e a partilha dos bens, para todos tenham a vida plena que Deus deu a todos.


“... Os olhos dos discípulos se abriram e reconheceram Jesus, mas ele desapareceu...”Porém, Jesus estará sempre nos caminhos dos homens.



A pergunta mais importante que qualquer cristão pode fazer é:

Onde está Jesus ressuscitado?

Muitos gostariam que ele estivesse apenas em Deus. Seria mais cômodo. Outros gostariam que ele estivesse apenas no fundo do coração de cada um. Também seria cômodo. Outros, ainda, gostariam de confiná-lo num templo ou de prendê-lo dentro de instituições, estruturas e esquemas. Mais cômodo ainda, porque assim Jesus estaria inteiramente sob controle, o que interessaria a muita gente.

Nesta perícope, Lucas nos mostra os lugares fundamentais onde se manifesta o Ressuscitado. Primeiro ele se encontra nos caminhos da humanidade, atento às aspirações e buscas das pessoas. Depois encontra-se na palavra, e na palavra por excelência, registrada na Bíblia. Em seguida, no gesto da partilha, e principalmente no gesto de partilha dos cristãos, a Eucaristia. Finalmente, coroando todas as presenças e confirmando todas elas, Jesus está no centro do povo cristão, a Igreja viva reunida em torno dos apóstolos.

Nos caminhos dos homens...Nos versículos de 13-24 percebe-se que Jesus ressuscitou, mas ninguém ainda o viu. As pessoas que foram ao túmulo viram que ele estava vazio, ou seja, que Jesus não estava no mundo dos mortos. Deve-se ressaltar que é ainda o primeiro dia da semana, o domingo, e dois discípulos vão de Jerusalém para Emaús, vilarejo onde certamente moravam. Como não podia deixar de ser, conversavam sobre os últimos acontecimentos, certamente sobre tudo o que sucedera a Jesus naqueles dias.

Há que se notar que, Jesus se aproxima deles, como desconhecido, e entra na conversa, seguindo o mesmo acminho. O ponto importante é que os discípulos não o reconhecem. Parece que é sempre necessário haver um sinal concreto para manifestar Jesus às pessoas.Outro ponto, é que Jesus se interessa pelo assunto deles. Quer saber o que os preocupa. Eles parecem estranhar: “Tu és o único peregrino de Jerusalém que não sabe o que aí aconteceu nesses últimos dias?”A partir daí, vamos perceber que começa então o primeiro anúncio: os discípulos contam o que aconteceu. Importante é a apresentação de Jesus: um poderoso profeta, isto é, um enviado de Deus. Toda a vida de Jesus é, a seguir, apontada por quatro palavras: “ação”, “palavras”, “diante de Deus”, “diante do povo”. É um resumo do que Jesus disse e fez, cumprindo o projeto de Deus em favor do povo. E o testemunho continua: os chefes do povo o condenaram e crucificaram. E, por fim, a decepção: eles esperavam que Jesus fosse o Messias libertador e que Deus fosse vingá-lo no mesmo dia. Mas já se passaram três dias... (naquele tempo se acreditava que o cadáver entrava em decomposição depois de três dias). Ou seja, as esperanças se frustraram. Alguma coisa parece ter acontecido, pois as mulheres não encontraram Jesus no túmulo, e isso foi confirmado pelos discípulos. “Mas ninguém viu Jesus”. Ponto importante. Jesus se encontra nos caminhos dos homens, mas os homens ainda não o estão reconhecendo.

O que falta?

A Bíblia anuncia Jesus...

Nos versículos 25-27 vemos que o próprio Jesus mostra que o caminho para entender a sua pessoa e atividade é a leitura da Bíblia. Nela está anunciado tudo o que o Messias enviado por Deus deveria realizar: “Será que o Messias não devia sofrer tudo isso, para entrar na sua glória?” O que significa que Deus tivesse decretado que Jesus fosse perseguido, sofresse e fosse morto. Não. Deus queria que Jesus realizasse o seu projeto até o fim. Jesus o realizou e por isso foi condenado e morto. Deus não quis a morte de Jesus. Os responsáveis por ela foram os mantenedores de uma ordem social fundamentada na injustiça. Tais mantenedores recusaram o projeto de Deus anunciado e atuado por Jesus, e por isso o condenaram à morte.A seguir o próprio Jesus vai mostrando tudo o que na Bíblia a esse se refere. Isso mostra duas coisas. Primeiro, que Jesus realizou o que Deus pedia e prometia na Escrituras do seu povo: liberdade e vida para todos. Segundo, mostra-nos que as primeiras comunidade foram descobrindo o sentido da vida de Jesus graças à leitura da Bíblia. Esse costume das comunidades deu origem à Liturgia da Palavra em nossas celebrações. Aí sempre se lê o Antigo Testamento e o Novo, mostrando que Jesus é o centro de toda a Bíblia. A Palavra de Deus na Bíblia é, portanto, o segundo lugar onde a presença de Jesus ressuscitado se manifesta. É na leitura comunitária da Bíblia (aqui é uma comunidade de três) que as pessoas encontram o Jesus que dá sentido à vida, principalmente à luta pela justiça.

A partilha anuncia Jesus...

No entanto, nos versículos 28-31, somos alertados a nos cuidar pois, se ficarmos apenas numas leitura da Bíblia e adquirir muito conhecimento sobre Jesus, sem experimentá-lo concretamente, corremos um sério risco: não seremos capazes de relacionar nossa fé à vida que vivemos. Como, então, fazer a experiência da fé e a vida? Vejamos o exemplo nesses versículos. Observem que os dois discípulos parecem ter chegado ao destino; e. Jesus faz de conta que vai seguir caminho. Os discípulos insistem para que se hospede junto a eles. Jesus aceita e se assenta à mesa com os dois. E aqui temos a celebração da Eucaristia, a celebração da partilha. Jesus faz os mesmos gestos que realizara na última ceia pascal com os discípulos, ou seja: toma o pão, abençoa-o, parte-o e o entrega. É nesse momento que eles o reconhecem.Pergunta-se: Por que é somente no gesto de partilha que as pessoas reconhecem que Jesus está vivo entre elas? Porque a partilha é a alma do projeto de Deus realizado por Jesus. É partilhando o que se é (liberdade) e o que se tem (vida) que todos poderão ter acesso à liberdade e à vida. Isso nos mostra como a Eucaristia tem um sentido econômico e político: ela é o sinal do mundo novo, onde as relações de poder são substituídas por relações de fraternidade, e onde as relações econômicas são norteadas pelo espírito de partilha igualitária. É desse gesto de partilha que nasce o mundo novo e a nova história, superando toda a desigualdade gerada pelo poder e pela riqueza. E, quando se fala de partilhar, não se trata de bondade ou generosidade, e sim de justiça; porque o dom de Deus é feito para todos, e deve ser partilhado entre todos.

Mas fica no ar a pergunta:

De que adianta celebrar a Eucaristia e não realizar na vida concreta a fraternidade e a partilha que ela anuncia e realiza? De que adianta celebrar e não viver o que se celebra? Temos o direito de fazer isso?

A Igreja se reúne...

Finalmente, nos versículos 32-35, veremos que o caminho dos homens, a palavra e a partilha, culmina na Igreja reunida. Após a experiência com o Ressuscitado, os dois discípulos voltam a Jerusalém, ao encontro dos apóstolos, e anunciam tudo o que presenciaram. Ao seu testemunho os apóstolos ajuntam a confirmação: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão”. Deste modo temos o círculo completo: Jesus se manifesta no caminho dos homens, e Pedro, o chefe da Igreja, pode confirmar isso, porque ele próprio viveu a experiência.Concluindo...

Neste trecho do evangelho temos, portanto, o itinerário da fé cristã: caminhos da humanidade, palavra, partilha, Igreja que confirma. Acima de tudo temos o Ressuscitado, que se manifesta onde quer que haja busca e onde quer que a partilha se faça: partilha de liberdade e de vida, fermentando a fraternidade e a partilha dos bens, para todos tenham a vida plena que Deus deu a todos.


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