quinta-feira, março 27

2º DOMINGO DA PÁSCOA


A Última Ceia, de Leonardo da Vinci. A pintura foi feita no refeitório do

Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão - Itália



Nesse segundo Domingo da Páscoa, realizemos, pela fração do Pão eucarístico, nosso encontro com Cristo ressuscitado. Unidos a ele, vivamos em comunhão fraterna e sejamos um sinal do Reino e anunciadores de uma esperança viva em meio a tantos sinais de idolatria e de morte.






Veja as leituras de Domingo clicando aqui:









A fração do pão na missa
Uma ação litúrgica que merece ser compreendida para melhor ser vivida
Jesus, na última ceia, realizou três ações importantes que se perpetuaram na Igreja. Primeira ação: pegou o pão, pegou o cálice com vinho. Segunda ação: deu graças. Terceira ação: partiu (repartiu) o pão. E mandou realizar essas ações em sua memória. Os cristãos obedeceram ao Senhor e, como resultado, cada uma dessas ações evoluiu para uma ação litúrgica específica no conjunto da celebração eucarística. A primeira ação do Senhor (pegou o pão, pegou o cálice com vinho) evoluiu para toda a ação litúrgica da preparação das oferendas (“ofertório”): desde a procissão levando as oferendas do pão e do vinho para o altar, até a oração sobre as oferendas.
A segunda ação do Senhor (deu graças) evoluiu para a ação litúrgica da grande Oração Eucarística: desde a saudação e convite a “dar graças”, até o “Amém” final, cantado por toda a assembléia. A terceira ação do Senhor (partiu, repartiu o pão) evoluiu também para uma ação litúrgica bem específica: a “fração do pão”. É o momento em que o sacerdote, antes da comunhão, pega o pão consagrado e parte-o (em pequenos pedaços, se for o caso, para ser também distribuído).
Trata-se de uma ação litúrgica de suma importância, mas ainda muito pouco valorizada. É realizada muitas vezes de qualquer jeito, sem expressão, às pressas, em plena movimentação do abraço da paz, de tal maneira que o povo nem percebe. E por que não é valorizada? Porque ainda não atinamos com o seu profundo sentido antropológico e teológico. Ela merece ser compreendida para melhor ser vivida nas comunidades cristãs.
Um questionamento a partir do humano
Todos já participamos de uma festa de aniversário. Num dado momento da festa, acontece uma significativa ação ritual que marca o ponto alto do evento. É o momento de cortar o bolo. Observemos o que acontece. Todos se reúnem ao redor da mesa. Acendem-se as velinhas. O aniversariante se posta diante daquele maravilhoso “símbolo” de sua vida. Instante de expectativa e emoção. Os olhares de todos se concentram brilhantes sobre o bolo iluminado e sobre o aniversariante feliz, como se ambos fossem um só. Canta-se, com entusiasmo, o “Parabéns a você”.
O aniversariante apaga as velas, sob estrondosos vivas e salvas de palmas. E aí vem o momento alto, acompanhado novamente de vivas e mais aplausos: a ação “ritual” de cortar o bolo, que depois é distribuído a todos. Então, a gente pergunta: e, na Missa, no momento da fração do pão, não seria natural que tivéssemos uma “vibração” pelo menos um pouco parecida? Como é valorizada a ação simbólico-ritual do “partir o pão” em nossas Missas? Qual é a “vibração” dos cristãos em relação a esse momento especial da Missa? Como é o olhar de todos sobre o gesto de partir o pão sagrado? Dá para vibrar?

O primeiro nome da Missa era “Fração do Pão”
Pelo jeito, temos que acordar e aprender (mesmo!) a valorizar mais o momento da fração do pão na Missa. Afinal de contas, “Fração do Pão” foi o primeiro nome da celebração eucarística. E o Catecismo da Igreja Católica nos apresenta os motivos: a Missa se chamou “Fração do Pão”, porque esse rito, próprio da refeição judaica, foi utilizado por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como presidente da mesa (cf. Mt 14,19; 15,36; Mc 8, 6-19), sobretudo por ocasião da Última Ceia (cf. Mt 26,26; 1Cor 11,24).
É por esse gesto que os discípulos o reconhecerão após a ressurreição (cf. Lc 24,13-35), e é com essa expressão que os primeiros cristãos designarão suas assembléias eucarísticas (cf. At 2,42-46; 20,7-11). Com isso querem dizer que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em comunhão com Ele e já não formam senão um só corpo nele (cf. cf. 1Cor 10,16-17) (n.º 1329).
Um sentido teológico por trás do gesto da “fração do pão”
Outro motivo para valorizar mais o gesto da “fração do pão”: proveniente da tradição mais antiga da grande família cristã, que é a Igreja, trata-se de uma ação litúrgica profundamente simbólica e de grande densidade teológica. Comecemos relembrando o que Jesus fez e disse na última ceia. Ele partiu o pão e disse: “Isto é o meu corpo entregue em favor de vocês... Façam isso em memória de mim”. Meu corpo entregue!... Realmente, na cruz, seu corpo foi entregue, quebrado e partido em favor de todos nós.
E esse mesmo corpo, agora ressuscitado, continua sendo entregue e partido em nosso favor. Quando? Quando nos reunimos para o memorial de sua paixão, morte, ressurreição, ascensão e dom do Espírito, na Missa, nossa Ceia com o Senhor. Então, o que acontece: o rito da fração do pão nos torna visível o mistério da morte e ressurreição de Jesus, pelo qual aconteceu o esmagamento do pecado do mundo e a vitória sobre a morte. Em outras palavras, ao ver na Missa como o pão é partido, contemplamos o mistério da morte e ressurreição de Jesus, seu corpo entregue (estraçalhado) na cruz e agora repartido entre nós, para nossa salvação. E tudo isso sem Ele falar, nem reclamar de nada.
É impressionante seu silêncio. É como um cordeiro que, ao ser sacrificado, fica em total silêncio, não dá um gemido. Por isso que, ao olhar o pão sendo partido, na ação litúrgica da fração do pão, muito cedo as comunidades cristãs, impressionadas com o que viam, começaram a cantar: “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós”. E tudo sem nos esquecermos também do sangue do Cordeiro derramado que, agora, depois da ressurreição, não está separado do corpo, mas unido. Por isso que, ao partir o pão consagrado, o sacerdote coloca um pedaço no cálice, rezando em silêncio: “Esta união do Corpo e do Sangue de Jesus, o Cristo e Senhor nosso, que vamos receber, nos sirva para a vida eterna”.
Concluindo
Os desafios em relação ao gesto litúrgico da fração do pão já se evidenciaram de alguma maneira. Seu sentido humano e teológico nos provoca a valorizá-lo melhor para melhor ser vivido. Se assim o fizermos, como, aliás, nos orienta a Igreja na Instrução Geral ao Missal Romano, “o gesto da fração do pão... (com certeza) manifestará mais claramente o valor e a importância do sinal da unidade de todos num só corpo, e da caridade fraterna pelo fato de um único pão ser repartido entre os irmãos” (n.º 283).

Nenhum comentário: