terça-feira, setembro 16

Doação de órgãos, na contramão do egoísmo


Individualismo e competição são regras das relações sociais modernas. Mas não para todos. A doação de órgãos é a demonstração de que há muita gente na contramão do egoísmo. Quem sabe, uma indicação de uma nova sociedade. A felicidade de quem recebe uma vida nova é testemunhada por quem trabalha com transplantes.


A doação de órgãos é a superação do individualismo; é um desafio enorme à nossa acomodação. A opção de doar órgãos nos remove da posição de meros expectadores e nos coloca como personagem principal, aquele único herói capaz de modificar completamente o destino do paciente: recolocá-lo na sociedade como um pai carinhoso, uma mãe cheirosa, um irmão solidário, um tio amigo. A doação ajuda a transformar a doença em saúde, a tristeza em sorriso e, principalmente, devolve ao paciente a esperança de dias melhores; torna a vida de outra pessoa possível, com melhor qualidade.


Os pacientes, depois que recebem o transplante, entram num novo estilo de vida. Eles ficam muito satisfeitos e muito felizes.


Afora os órgãos que você pode doar enquanto vivo, os demais são retirados somente quando for constatada a morte cerebral da pessoa. E existe todo um protocolo para estabelecer a morte cerebral; são feitos vários testes. São feitos exames de laboratório que constatam a morte cerebral, que é atestada normalmente por um neurologista e mais um outro médico. Portanto não há possibilidade de os órgãos serem retirados em vida. Além disso, o hospital que faz o transplante deve ter o documento que indica a procedência do órgão transplantado, o que também impossibilita uma eventual comercialização. Quem autoriza a doação é a família da vítima. Até é interessante que as famílias conversem sobre esta questão para que se saiba a vontade de cada um, que facilitará a decisão num momento delicado que é a morte, ainda mais se for inesperada.

O transplante de medula óssea é um transplante em que o doador é vivo e que também não prejudica o doador. O doador vai até o laboratório e coleta dois ou três tubinhos de sangue (5ml). Isto é muito fácil, não é uma cirurgia e a renovação das células sanguíneas se refaz rapidamente. O doador se recupera, sem nenhuma seqüela, em alguns dias. O hospital procura um doador chamado “relacionado”, ou seja, alguém que tenha a mesma tipagem sangüínea do recebedor. Em geral inicia-se a busca com os irmãos, que são os indivíduos com maior semelhança genética entre si. Quando não há nenhum doador familiar, a tipagem HLA do paciente é inserida em um banco de dados e se inicia a busca por um doador cadastrado de medula óssea no Brasil e exterior.

O transplante de medula começou com o tratamento de pacientes com doenças oncológicas: câncer, leucemia, linfoma... A principal doença superada por este transplante é a leucemia. Mas como mexe com o sistema imunológico (porque com o transplante se substitui o sistema imunológico do paciente pelo do doador), tem sido usado também para doenças benignas que envolvem o sistema de defesa. Na verdade ele substitui a medula doente do paciente pela medula sadia do doador. A medula é não só responsável pela produção das defesas, como também da hemoglobina e das plaquetas que coagulam o sangue.


Pode ocorrer rejeição do órgão transplantado, podem acontecer infecções, problema no coração ou rim etc. Também há a possibilidade de a doença voltar. Por exemplo, uma leucemia. Mas nos casos em que fazemos o transplante, sempre vale a pena. Quando alguém recebe um transplante, é porque a chance de a doença vir a complicar é maior do que o transplante não dar certo. É claro que não se deve alimentar a fantasia de que todo transplante sempre vai dar 100% certo. Mas o transplante de órgãos é um grande avanço da medicina que vem salvando milhares de vidas.


Doação de sangue

A doação de sangue é algo fundamental. Todos os hospitais precisam muito dos doadores de sangue. Quando há uma cirurgia programada, geralmente o hospital solicita aos familiares do paciente para que deixem reservada uma determinada quantia de sangue. Muitas vezes essa reserva não é suficiente, além das situações imprevistas que exigem transfusões. Então, o banco de sangue é responsável pela salvação de vidas de muitas pessoas. Para ser um doador de sangue, a pessoa tem que ter mais de 18 anos e pesar acima de 50 quilos. A doação pode ser feita a cada 90 dias para as mulheres e a cada 60 dias para os homens. Mas não há necessidade de ser tão periódico. O certo é que a doação não faz mal à pessoa, não engorda, não emagrece, não faz mal nenhum.


Cadastramento:

A doação de órgãos que são coletados de pessoas depois da morte cerebral, como já falamos, é decidida pela família. Por isso é bom deixar revelado de alguma forma o desejo de ser um doador. Para se tornar um doador de sangue basta comparecer aos hemocentros ou bancos de sangue dos hospitais e se cadastrar. Este órgão vai fazer uma série de testes, de triagem para saber se a pessoa pode doar e para saber se ela não tem alguma doença incompatível à doação. Para ser um doador voluntário de medula óssea, a pessoa deverá procurar um hemocentro especializado (muitos hospitais estão equipados para isso ou fornecem as informações). Ali a pessoa vai coletar uma pequena amostra de seu sangue para fazer a pesquisa desses genes específicos. Esta informação é enviada para um centro nacional, que é o Instituto Nacional do Câncer, que concentra um banco de informações sobre os doadores. Esta tipagem sangüínea de cada doador é lançada num banco de dados informatizado. Quando o paciente necessitar do transplante, será feita a pesquisa pela tipagem compatível. O doador é acionado e convidado a doar, que consiste na coleta de uma determinada quantidade de sangue, como já falamos. Portanto o fato de se cadastrar como doador de medula óssea não significa que obrigatoriamente será chamado. Só em caso de uma necessidade de medula compatível.


A escola pode abordar esse assunto e estimular os alunos a realizarem campanhas pela doação

Durante as aulas, este tema deve ser considerado para discussão. Os hospitais que trabalham com transplante, de uma maneira geral, estão de portas abertas para receber escolares e mostrar-lhes o mundo real da dificuldade de viver sem saúde. Muitas doenças, cujo tratamento inclui o transplante, ocorrem em crianças e adolescentes, ou adultos jovens que ficam privados desde cedo das delícias da vida. Os grêmios estudantis são núcleos de grande influência na escola. Podem participar ativamente de campanhas de divulgação de doação de órgãos, por exemplo. Afinal, como escreveu um doador, “doar órgãos é permanecer vivo, além da sua vida”.

Sobre doação

Segundo a legislação em vigor, todos nós somos doadores, desde que a família autorize a retirada dos órgãos caso alguém se encontre em situação de morte encefálica. O uso de um símbolo (cartão de doador, selo em documentos etc.) que expresse essa vontade é importante porque poderá facilitar a decisão da família em um momento crucial. É possível também ser doador em vida de um rim, parte do fígado ou do pulmão ou medula óssea.

O principal entrave ao aumento no número de doadores atualmente é a falta de comunicação do diagnóstico de morte encefálica entre os hospitais e a Central de Transplante. A sociedade em geral é sensível ao processo de doação e de 100 famílias entrevistadas, mais de 70 doam os órgãos de um ente querido.

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