segunda-feira, setembro 8

A festa da Exaltação da Santa Cruz

A festa da Exaltação da Santa Cruz teve origem onde ela foi plantada. S. Helena, mãe do imperador Constantino, construiu, em Jerusalém, uma basílica grandiosa. Ela tinha 4 partes: a cúpula sobre o túmulo de Jesus, chamada Anástasis (Ressurreição), o Calvário, o Matyrion (lugar das celebrações) e um adro. Eram 200 metros. Uma tradição conta que ali, em uma gruta, foi milagrosamente encontrada a cruz de Jesus.
A festa tem origem no ano 335, na Dedicação da Basílica da Ressurreição, mais tarde chamada, pelos cruzados, de Santo Sepulcro. Há uma íntima ligação entre os mistérios da Morte e Ressurreição de Jesus. A festa é colocada 40 dias depois da festa da Transfiguração. Na atual celebração, lemos o texto que narra o encontro de Jesus com Nicodemos. Jesus lhe diz que é preciso nascer do Alto (Jo 3, ), do lugar de onde veio para se encarnar, ser elevado na cruz e voltar ao Pai.
Ele veio para levar consigo os que nele creram. Jesus, para explicar sua missão de redenção, usa o símbolo da serpente de bronze, que Moisés levantara em um poste para curar os que para ela olhavam, depois de serem picados pelas serpentes do castigo. Para Jesus, ser levantado, significava ser crucificado para dar vida, como narra o Livro dos Números sobre a serpente (Nm 4b-9). Há uma relação entre a árvore do Paraíso que trouxe a morte e a árvore da cruz que traz a vida: “Puseste no lenho da cruz a salvação da humanidade, para que a vida ressurgisse de onde a morte viera. E o que vencera na árvore do Paraíso, na árvore da cruz fosse vencido”(prefácio). Olhar para Jesus na cruz é o gesto de crer. Por isso dá a vida. Mas por que o Filho de Deus teve que passar por todo o suplício da Paixão e chegar à morte de cruz para salvar a humanidade? Deus poderia ter salvado de modo mais simples e menos custoso. Santo Afonso responde que era para que não sobrasse nenhuma dúvida sobre o amor de Deus. Foi ao extremo do amor, para manifestar amor e atrair ao amor. Amou assim para que pudéssemos amar ao extremo de nosso frágil amor. O amor do Pai está em dar o Filho.

Leituras:
Números 21,4b-9;
Salmo 77;
Filipenses 2,6-11;
João 3,13-17

REFLEXÃO DE PADRE PAULO...



Hoje somos convidados a contemplar a Santa Cruz de Jesus, de onde Ele venceu o pecado e a morte e nos trouxe a Vida Nova, a Redenção de nossos pecados e nos reconduziu no caminho que leva para Deus. Com a Igreja nós rezamos: “Nós vos adoramos e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo”, assim professamos a nossa fé na salvação que nos veio d’Aquele que morreu na cruz como um grão de trigo que, morrendo, dá muito fruto.
Alguém poderia estranhar o nome dessa festa que hoje celebramos: Exaltação da Santa Cruz, pois para muitos a cruz significa derrota e fracasso, tortura e morte de Jesus que, como Messias Crucificado é “escândalo para os Judeus, loucura para os pagãos, mas para nós que cremos é poder e sabedoria de Deus”, símbolo da vitória de Jesus. É realmente paradoxal que um instrumento de humilhação e de morte se torne sinal eficaz de libertação e vida.
O que se exalta na cruz não é a dor, a humilhação, a derrota e a morte de Jesus, mas o que ela nos trouxe. Ela não é símbolo de morte para nós cristãos, é a nossa redenção, símbolo de nossa fé. É a expressão suprema do amor de Deus por cada um de nós.
As leituras nos convidam a contemplar esse Deus crucificado, a mergulhar nas profundezas desse amor, se envolver nesse mistério, porque “Não há maior amor que dar a vida pelos irmãos”.
A primeira leitura do livro dos Números apresenta a Serpente de Bronze levantada por Moisés no deserto. Ela foi um sinal de salvação para os que tinham sido atacados por serpentes venenosas. O povo em marcha no deserto, cansado do alimento sempre igual que possuíam (o maná), expressa seu desagrado contra Deus e contra Moisés. Revoltados contra Deus sofrem com a própria sorte, pois Deus permite que serpentes venenosas ataquem o povo.
O arrependimento do povo toca o coração amoroso e misericordioso de Deus que manda Moisés erguer uma serpente de bronze, para que todo aquele que fosse picado por uma serpente e olhasse para a Serpente de Bronze ficaria curado. Deus usa o mesmo instrumento que causa a morte para salvar a vida do povo. A Serpente de Bronze é uma prefiguração da Cruz em que Cristo foi levantado para dar a sua vida em resgate de todos.
São Paulo vê o perigo de crescer na comunidade de Filipos o orgulho, a vaidade, a rivalidade, o individualismo (como busca de si mesmo), e propõe um belíssimo hino que destaca o exemplo de Cristo narrando a sua história, para que todos tenham os mesmos sentimentos de Cristo, que se despojou da sua condição de ser Filho de Deus, se despojou da grandeza divina e assumiu a condição humana: “Esvaziou-se, humilhou-se, fez-se obediente até a morte e morte humilhante numa cruz. Mas, Deus o exaltou sobremaneira, tornando-o Senhor do Universo”. Exaltado na Cruz, Jesus é proclamado como Senhor Glorioso.
O Evangelho apresenta Jesus numa conversa com Nicodemos está fazendo referência à uma hora de agonia, de dor e sofrimento, a hora que o Filho do Homem for exaltado na Cruz, onde servirá de zombaria para aqueles que pedirão a sua condenação, mas, que será um momento de vida e salvação para toda a humanidade.
No momento da Cruz podemos lembrar o episódio da Serpente de Bronze erguida por Moisés no deserto como sinal de salvação para o povo sofrido. Assim Cristo na Cruz é sinal de salvação para todos os que Nele crerem.
O que significa a Cruz para nós? Ela não pode ser apenas um amuleto supersticioso, é o ponto de referência dos que tem fé e vêem nela a proposta de vida e salvação, feita por Cristo ressuscitado a cada um de nós que Nele cremos.
Somos convidados pelo Crucificado-Ressuscitado a fixar os olhos nela e orientar as nossas escolhas e ter nela, principalmente quando traçamos sobre nós o sinal, que aprendemos com nossa mãe, nosso pai, nossos catequistas, a presença forte e constante do Deus da vida que venceu a morte pela morte humilhante numa cruz e dela saiu vitorioso, porque Jesus ressuscitou e está vivo no meio de nós.


Padre Paulo Henrique Facin

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