quinta-feira, fevereiro 28

4° DOMINGO DA QUARESMA - Os desafios da caminhada da fé


1. PONTO DE PARTIDA

Em nossa vida pessoal e familiar, em nossas comunidades paroquiais, em nossos grupos e agentes de pastoral percebemos, hoje, certos sinais que desafiam nossa fé e que antigamente quase não se notavam: o pluralismo religioso, a necessidade de se criar pastorais específicas para adultos que nem batizados foram. Como dizem os especialistas, trata-se de uma nova cultura que se distingue da fé católica. Diante dessa cultura somos convidados a fortalecer a nossa própria fé e entrar em diálogo com essa ou essas novas culturas e a liturgia deste domingo vem muito diretamente ao nosso encontro.

2. REFLEXÃO BÍBLICO-LITÚRGICA

A} Visitando os textos O capítulo nono do Evangelho segundo João é todo dedicado ao tema da fé e se apresenta como o caminho que nos leva à luz, símbolo de Jesus. Os sinais são uma característica do Evangelho de João. Seu Evangelho, do capítulo segundo ao capítulo doze, narra sete sinais e todos esses sinais estão relacionados com a fé: "Estes sinais foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20,30). Os sinais ou milagres, em João, não têm tanto uma finalidade apologética de querer provar, mas, sobretudo querem levar aquele que crê a um ver mais profundo (ver em João é sinônimo de crer), uma disposição a penetrar no mistério de Jesus. Das trevas à luz Nessa disposição de ver Jesus mais profundamente, percorre-se um caminho rodeado de desafios. A cegueira do mendigo que Jesus mandou lavar-se na piscina é símbolo daqueles que estão dispostos a ver, mesmo quando encontram obstáculos. Tais dificuldades, muitas vezes, são impostas por aqueles que não querem ver, como os fariseus, ou pelos que têm medo de contrariar seus poderes como os pais do mendigo cego que recebeu a cura. O cego dá os passos no aprofundamento da aceitação de Jesus: aquele homem, é um profeta, não é um pecador e vai até a proclamação da fé: "Prostrou-se diante de Jesus, dizendo: "Creio Senhor". Duas atitudes se destacam naquele que nascera cego e agora vê: "a coragem e autenticidade ". A comunidade a quem se dirige ou onde nasceu o quarto Evangelho era muito provavelmente, de origem judaica, pois mostra muita familiaridade com Primeiro Testamento, mas por sua adesão a Cristo tinha sido excluída da Sinagoga.E também possível que este Evangelho fosse proclamado num contexto de celebração. Os versículos 9,6 e 9,11 falam em ungir e o versículo 9,7 faz referência à piscina. Referências ligadas ao sacramento do batismo. Em síntese. uma cura, um sinal narrado com a intenção de fortalecer uma comunidade às voltas com lutas nascidas em confronto com outras culturas, principalmente a judaica. Ungido e iluminado para servir A primeira vista, parece estranha a colocação da unção de Davi por Samuel. Este trecho do livro de Samuel harmoniza-se com o evangelho no que se refere ao reconhecimento da ação de Deus. No Evangelho, os fariseus estão "cegos" e não reconhecem que Jesus pudesse manifestar o poder de Deus (v. 18). Apegam-se às aparências. Não enxergam Jesus como guia e pastor, detentor de uma missão. A primeira leitura ensina que Deus não olha as aparências. Por isso, elege Davi e não aqueles que aparentavam estar mais aptos à função de guia de Israel. O Salmo 22 (23) se assemelha a um poema que celebra a tutela, o cuidado de Deus sobre quem o acolhe e, pela meditação, o aprofunda. Para quem vive na fé cristã, Jesus, sob a imagem bíblica do pastor, é quem lhe dá toda segurança no percorrer do caminho. É um dos mais populares entre os salmos. O último versículo é uma síntese que expressa toda a confiança do salmista: "Sim, felicidade e amor me seguirão todos os dias de minha vida, minha morada é a casa de Javé". Sob o mesmo símbolo da luz, a fé e o batismo nos convidaram a deixar as trevas para viver na luz da justiça e da verdade. É a exortação que nos dirige a carta aos efésios (segunda leitura)

B) A Palavra se faz celebração O prefácio do quarto domingo da quaresma faz memória do mistério da encarnação, relacionando-o com o sacramento do batismo: "Pelo mistério da encarnação, Jesus conduziu à luz da fé a humanidade que caminhava nas trevas. E elevou à dignidade de filhos e filhas os escravos do pecado, fazendo-os renascer das águas do Batismo." Por sua vez, o versículo da aclamação ao Evangelho traz uma passagem do mesmo evangelho de João no qual se afirma que Jesus é a luz do mundo e, uma vez tomando-nos seus seguidores, a teremos habitando em nós. A liturgia de hoje ao relacionar encarnação, batismo e seguimento com o simbolismo da luz nos insere no trabalho de Deus: iluminar o mundo com o seu resplendor. Neste sentido, a oração depois da comunhão "arremata" a celebração ao desdobrar nossa participação no ser de Deus (como filhos e filhas da luz, pelo batismo) com a missão de amar ao Senhor de todo o coração. Trata-se de uma sutil referência ao "credo" de Israel, que professa a entrega de toda existência aos cuidados de Deus. Tal profissão de fé, por sua vez, é a responsável por constituir o povo de Deus como "sinal" diante dos outros povos. o catecumenato e iluminação Na iniciação cristã de adultos, o tempo que compreende a "iluminação" desenvolve-se durante a quaresma, em especial nas celebrações dos cinco domingos. Começando pela "inscrição do nome" ou "eleição", tornam-se competentes, isto "porque todos juntos se esforçam para receber os sacramentos de Cristo e o dom do Espírito Santo."! Em tal esforço, os eleitos são auxiliados pela própria graça de Deus, através de vários ritos, dentre eles os escrutínios e as entregas. Os primeiros, constam dos chamados "exorcismos": ritos e orações nas quais se descobre a maldade que por vezes habita o coração dos eleitos para que seja superada, como também o que há de bom e belo, para que se fortaleça. As entregas referem-se aos ritos nos quais são confiados aos eleitos o "símbolo da fé" (o credo da Igreja) e a "oração do Senhor" (o Pai Nosso). Sobretudo com estes últimos, visa-se a iluminação dos eleitos pela qual são inebriados pela luz da fé. A quaresma é tempo de renovação da comunidade de fé. Neste sentido, não somente os "eleitos" que passaram pelo processo formativo do catecumenato são iluminados, mas toda a comunidade. E assim ocorre a cada celebração eucarística no Dia do Senhor, quando. ao recitar em assembléia o Credo e a Oração do Senhor, nutrem seu batismo e tornam-se mais resplandecentes do ser de Deus.

3. A PALAVRA CELEBRADA VIVIDA O QUOTIDIANO

A linha diretiva do sinal da fé segundo o capítulo nono de João é o caminhar da fé sob o símbolo da luz, o ser libertado de cegueira e o ir sendo inundado pela luz do Cristo. Diante de tudo que o discípulo enfrenta, a autenticidade e a firmeza daquele que sendo cego, mendigo de estrada, recebeu a luz o conforta e impele no seguimento. O ser batizado quando criança, como é a tradição da Igreja, é uma sabedoria, mas não dispensa a responsabilidade dos pais, padrinhos, familiares e comunidade. É na catequese e no testemunho de todos esses fatores que, à medida que a criança vai crescendo deverá ir personalizando a fé, enfrentando os desafios e experimentando as alegrias de ir deixando-se inundar da luz do mistério de Cristo. Dada a cultura em que vivemos, nós, Igreja, devemos ampliar a capacidade de atender e até mesmo ir ao encontro de adultos que procuram ou têm o coração aberto para acolher a luz da fé e do batismo. Daí, surge a responsabilidade de optar pela vida. Em síntese, a missão do batizado é discernir os sinais dos tempos, buscando enxergar os apelos de Deus, respondendo a eles.


Fonte: Subsídio para a Liturgia Dominical, Projeto de Evangelização “Igreja Viva: Povo de Deus em Comunhão”, Vicariato Episcopal para a Pastoral, Arquidiocese de Belo Horizonte, Brasil.

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