segunda-feira, fevereiro 4

Domingo 10/02/2008: As tentações da injustiça


As três tentações configuram o perfil deste messias glorioso: a promessa demagógica de pão para todos, ostentação como sócio do poder divino e a sede de domínio e poder sobre todos os reinos do mundo. Os evangelistas querem mostrar que tal messias tem parte com o diabo. Em resistência à esta proposta messiânica, Jesus, ao longo de seu ministério vai revelando seu verdadeiro perfil.


10/02/2008. Primeiro Domingo da Quaresma – Cor Litúrgica: Roxa

1ª Leitura: Gn 2,7-9; 3,1-7

Salmo: 51 (50)

2ª Leitura: Rm 5,12-19

Evangelho: Mateus 4, 1-11


As Tentações da Injustiça

Como transição entre o batismo de Jesus e o início de seu ministério, os três evangelistas sinóticos apresentam a narrativa da tentação. Enquanto Marcos, cuja redação deu origem ao primeiro evangelho escrito, relata de maneira sucinta a tentação, os evangelistas seguintes, Mateus e Lucas, desenvolvem esta narrativa com características próprias de cada um. Esta narrativa pode ser vista como um sumário antecipado da vida de Jesus, em suas provações nos conflitos com as autoridades do judaísmo de seu tempo e das tentações da parte dos discípulos, que esperavam que ele assumisse a posição gloriosa do messias davídico por eles esperado. A proposta de Jesus é a do pão partilhado entre todos, de modo que todos estejam saciados, como revelou na partilha com as multidões (Mt 14,13ss). Jesus partilha também a palavra que toca os corações e os move à conversão. Jesus é o Filho de Deus, porém não como se proclamavam os faraós e os imperadores que, com este título, oprimiam o povo. Jesus vem para comunicar o amor misericordioso e vivificante de Deus na condição de um homem frágil e humilde, transformando o mundo e inserindo a todos na vida divina e eterna, conforme a vontade do Pai. A fidelidade ao compromisso com a vontade do Pai remove o pecado presente no mundo (primeira e segunda leitura), libertando-o da opressão dos adoradores do dinheiro e do poder. A este compromisso são chamados todos que receberam o batismo na perseverança na fé em Jesus. Após o batismo, Jesus está pronto para pôr em prática o projeto de Deus, o Reino da justiça que cria a liberdade e vida para todos. Há, porém, muitas dificuldades para realizar esse projeto. Primeiro é preciso vê-las, lutar contra elas e vencê-las. A primeira obra do Espírito, em Jesus e em nós, é abrir nossos olhos para ver o que impede o reino da justiça.As tentações acontecem no deserto. Por quê? Quando os hebreus saíram do Egito, lugar da injustiça, chamados por Deus para criar uma sociedade justa, eles entraram no deserto. É o lugar das dificuldades e necessidades, onde aparece a cada momento a tentação de voltar atrás, achando que nenhuma transformação é possível. Jesus retoma essa parte da história do seu povo, e os quarenta dias de jejum recordam os quarenta anos de Israel no deserto, antes de entrar na Terra Prometida, onde haveria justiça e vida para todos. Antes, porém, é necessário compreender quais são as tentações que criam a injustiça e a desigualdade, que deixam o povo na miséria e produzem o privilégio de uma pequena minoria. Quais são elas? Mateus resumiu nesta cena simbólica aquilo que vai ser a luta de Jesus a vida inteira.


A tentação da abundância

O deserto é lugar de fome (Ver Mt 4, 2-4). Como resolvê-la? O diabo é esperto e sugere que Jesus se aproveite do fato de ser Filho de Deus para criar imediatamente uma grande abundância de alimento para si, já que no deserto não faltam pedras. Este é o desejo do povo faminto: ter abundância de alimento e pronto, está tudo resolvido. Mal nos lembramos nessa hora que por trás da abundância de alguns está a fome de muitos. Não devemos cobiçar a abundância para nós, deixando os outros sem o necessário. Deus não promete abundância para ninguém. Ele quer que todos tenham o necessário e o suficiente para viver bem.Jesus cita Deuteronômio 8,3, lembrando que “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Por que isso? Porque a palavra de Deus nos ensina que não basta comer. É preciso também vestir, ter moradia, escola, assistência médica, lazer, enfim, tudo o que é necessário para viver dignamente. Antigamente o poder romano tapeava o povo, dando-lhe pão e circo. Hoje em dia nem isso o povo tem. O pão está caro, e o circo também. Mas há privilegiados que fazem banquete todos os dias, e passam o dia inteiro se divertindo. Como isso é possível? Basta-nos visitar as periferias, as marquises, as pontes, as filas do INSS, as escolas públicas, os hospitais etc, que saberemos como.


A tentação do prestígio

Na segunda tentação o diabo sugere que Jesus exiba o seu poder: atirar-se da parte mais alta do Templo de Jerusalém, bem na vista de todo o povo (Ver Mt 4, 5-7). Deus o protegerá. Em outras palavras, abuso de confiança. E o diabo é esperto, até ele conhece a Bíblia, pois cita o salmo 91, onde Deus promete proteger o justo. Entendemos então que a tentação é usar Deus para o prestígio pessoal, colocando-o a serviço do próprio capricho e ostentação. E como fazemos isso! Uma tentação que pode estar presente principalmente nas pessoas religiosas, que muitas vezes podem colocar Deus a serviço de sua vaidade pessoal, e não a serviço dos problemas e necessidades do povo. Jesus cita Deuteronômio 6, 16, mostrando o que significa uma tal atitude: “Não tente o Senhor seus Deus”. É grande a ousadia de entortar o projeto de Deus para satisfazer interesses egoístas, simplesmente para “brilhar” diante do povo. Isso é querer manipular a Deus para tapear os outros.

Diante de Deus somos todos iguais e cada um tem muito valor. E não há mérito em conhecer a Deus e ao seu projeto. Pelo contrário, traz mais responsabilidade e trabalho. Ai de quem conhece a Deus e o seu projeto! Se não fizer nada para colaborar, estará perdido... Ai de quem usa isso para conseguir prestígio pessoal! Com Deus não se brinca...


A tentação do poder e da riqueza

Agora o diabo já não usa mais a expressão “se tu és Filho de Deus” (Ver Mt 4, 8-11). Ele sabe muito bem que a negociação vai ser suja mesmo. Como as tantas que acontecem, nos dia de hoje, nos bastidores de qualquer poder constituído. O diabo leva Jesus para um monte muito alto. Ora, a montanha era um lugar sagrado, onde o homem se encontrava com Deus. Mas o diabo vai lhe propor o contrário: dará a Jesus todos os reinos do mundo e suas riquezas, bastando que Jesus o adore. Seria a maior traição. Em vez de adorar a Deus, adorar o diabo. Em vez de servir o projeto de Deus, servir o projeto do diabo. E aqui uma coisa fica bem clara: o poder e a riqueza são coisas próprias do diabo, são diabólicas. Por quê?

Porque poder se constrói através do roubo das liberdades do outros. Poder é liberdade do povo acumulada na mão de poucos, ou de um só. Deus não quer isso. Ele quer que todos participem das decisões que encaminham a sociedade e a história. Deus não quer que alguns poderosos dominem e oprimam o povo enfraquecido. E a riqueza? Não é ela acumulação na mão de poucos dos bens que Deus criou para todos? Deus quer que os bens da vida sejam repartidos entre todos.

Poder e riqueza são coisas diabólicas, pois se fazem à custa da mentira, enganos e traições, da ganância, das orgias, lascívias, fome, miséria, pobreza, opressão e exploração do povo. E uma envolve a outra. Quem é rico logo consegue o poder. Quem adquire poder logo se torna rico. Mas Jesus vence essa suprema tentação citando, mais uma vez o livro do Deuteronômio, agora em 6,13: “Vá embora, Satanás, porque a Escritura diz: ‘Adore o Senhor seu Deus, e sirva somente a ele’. Dessa forma Jesus selou definitivamente o seu compromisso com Deus e com o projeto dele.

Como se pode perceber, então, as tentações não param nunca. Elas nos perseguirão por toda a vida. No entanto, é preciso que tenhamos a força de Jesus diante de tudo que tenta nos afastar do projeto de Deus. Mateus, após a narrativa de todas as tentações, diz que o diabo deixou Jesus, e os anjos de Deus se aproximaram para servi-lo. Ai, então, se pode ver o começo do Reino de Deus. Agora vai entrar em ação a justiça que trará liberdade e vida para todos. Quando o homem deixa de lado seus interesses egoístas, então o caminho para a ação de Deus fica aberto. Aí poderemos ter esperança de grandes transformações. Caso contrário, o mundo continuará o mesmo. Ou muito pior...A Relação entre Diabo e Satanás


Diabo é uma palavra grega (diabolos), que significa uma pessoa ou situação que lança uma coisa no meio, para separar. Diabólica é a ação que separa, criando divisões.Satanás é uma palavra hebraica (satan) que significa adversário. Aplica-se a tudo aquilo que causa dificuldades e atrapalhações para uma coisa se realizar. Satânica é a ação que dificulta um projeto.


equipe de liturgia

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