quinta-feira, fevereiro 14

A Transfiguração de Jesus





Transfiguração de Jesus é a vitória da justiça


O ponto mais difícil de compreender e aceitar na boa notícia do Evangelho é o de que o triunfo acontece através do aparente fracasso, de que a justiça é vitoriosa através da aparente vitória da injustiça, de que a Vida triunfa através do aparente triunfo da Morte. Nós gostamos de coisas claras e lógicas, e ficamos atrapalhados com tudo isso. É que lógica de Deus é diferente da nossa. Ele vê tudo e nós apenas uma parte. Resta-nos, portanto, crer, admitindo que a nossa visão é curta.

Jesus é o Messias esperado, mas um Messias que vai realizar a vontade do Pai através do aparente fracasso e derrota, julgado, condenado e morto como criminoso, subversivo da “ordem social”. Assim pensam aqueles que vivem da injustiça. Em Mateus a narrativa da Transfiguração mostra que, do lado de Deus as coisas são muito diferentes. Em Jesus a criação de Deus chegou à sua realização final. Ele é o modelo transfigurado da humanidade realizada.

Revertendo a tentação
Vimos no primeiro Domingo que Jesus recusara a proposta do diabo na última tentação: dominar o mundo através do poder e da riqueza (retome o texto de Mateus 4, 8-10). Agora ele está novamente num alto monte, exatamente seis dias depois. Incrível não! Fato que nos lembra o sexto dia da criação, quando Deus criou a humanidade. É a revelação do destino final de cada um de nós, se nos comprometermos com o projeto de Deus, profundamente desejado no Antigo Testamento, e finalmente revelado e realizado em Jesus e através dele. O segredo? O segredo é a justiça, a vontade de Deus que cria liberdade e vida para todos nós. O que acontecerá se nos comprometermos com ela? O mesmo que acontece com Jesus nesta cena de Mateus 17, 2, ou seja: a nossa transfiguração.

Jesus: o homem glorioso
Jesus acabara de anunciar a sua morte, e Pedro, o chefe da comunidade, resistira. Como lutar tanto, e acabar derrotado? Era necessário mostrar o resultado final da luta. A luta de Jesus e dos seus seguidores não vai acabar na derrota da morte, mas na glória da ressurreição, porque a verdade, uma vez entrevista, jamais se apagará. É bom lembrar de que já faz vinte séculos que Jesus foi morto, mas até hoje a lembrança da sua palavra e ação continua a mover o mundo. E como ele tantos outros, discípulos seus, declarados ou anônimos.

Em Jesus está a Bíblia inteira
Moisés e Elias são um modo de falar de todo o Antigo Testamento (17, 3-5). Moisés personifica a Lei e Elias o profetismo. Lei e Profetas era o modo de como os judeus chamavam a Bíblia. E o conteúdo da Bíblia toda é o anúncio e busca da justiça, vontade de Deus e desejo da humanidade. Moisés e Elias conversam com Jesus. Sinal de que, se quisermos agora entender a Bíblia, temos que conversar com Jesus. Ele é quem pode explicar, através de sua palavra e ação, o que Deus quer e o que nós mesmos desejamos.

Isso fica mais claro com a voz do Pai que declara: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz”. Daqui para frente é Jesus quem vai ensinar tudo o que Deus quer, em resposta ao nosso mais profundo desejo. Os discípulos que aí estavam ficaram com medo. Quem é que não teme diante da vontade de Deus e do seu próprio desejo profundo, embora fosse justamente por isso que andava à procura?

É bom ficarmos aqui
Pedro é uma pessoa extraordinária, porque expressa a nossa espontaneidade e, talvez, a nossa ingenuidade. Ele quer reter aquele Jesus glorioso, junto com Moisés e Elias (veja 17, 4). As tendas são uma referência à Festa das Tendas, de caráter nacionalista e triunfalista. Seria tão bom ficar com esse Jesus glorioso. Esse é o nosso sonho de criança: a glória fácil. Não. A glória virá depois da luta, o triunfo virá através da derrota, e a vida surgirá das cinzas da morte. A lógica de Deus é diferente da dos homens...

Somente Jesus
A visão maravilhosa se desfaz, e resta apenas Jesus com os discípulos (observe 17, 7-9). Fora apenas a antevisão do futuro. Agora é preciso lutar até o fim. A visão do triunfo não para afastar da luta, mas para dar ânimo, a fim de não desistamos da luta no meio do caminho. É aqui que está o grande segredo dos cristãos: eles não devem contar a ninguém que viram o Jesus glorioso, antes que ele realmente esteja na glória, depois de toda luta. Antes as pessoas não acreditariam. Quem acredita que a vitória de Deus vem através do nosso fracasso? Alógica de Deus é diferente da nossa...

Irmãos e irmãs. A caminhada é longa e difícil, mas Jesus não nos prometeu um caminho fácil. Contudo, as dificuldades que se apresentam, para os que realmente crêem, são iluminadas pela luz da glória do Filho de Deus, que nos agracia experimentar o brilho de sua face ao iluminar nossas vidas com a Lei e o profetismo que se dá através do anúncio da Palavra, respectivamente representados por Moisés e Elias.
Portanto, devemos, neste tempo quaresmal, nos permitir subir esta montanha e fazer a experiência da transfiguração de Cristo para que a Páscoa simbolize, para cada um de nós, nossa verdadeira conversão, ou seja: a nossa vitória sobre o mal.

equipe de liturgia

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